quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O QUE É FITOTERAPIA

A palavra "fitoterapia" vem do grego "phytos", que significa planta, e "therapeia", que significa terapeutica.
Os termos fitoterapia e fitoterápicos foram concebidos pelo médico francês Henri Leclerc (1870-1955). Segundo ele, fitoterápicos são drogas exclusivamente derivadas de plantas, a planta inteira ou seus extratos, que são usados com o propósito de cura.


PRINCIPIO GERAL DA FITOTERAPIA


A planta inteira oferece um leque terapeutico bastante amplo, graças a seus diferente componentes, que harmonizam sua ação. É por essa razão que estabeleceu-se uma relação de equilíbrio e adaptação mais tranquila e harmoniosa entre o homem e a terapeutica vegetal, ou seja, entre o ser humano e seu meio ambiente.
A partir do século passado, os progressos científicos, notadamente na Química, permitiram analisar, identificar, separar, os princípios ativos das plantas, cujo conjunto é denominado TOTUM. Foi assim que os alcalóides excitantes e as escopolaminas fortemente sedativas foram extraídos de plantas para entrarem na composição de medicamentos modernos. No entanto, quando separa-se o princípio ativo de seu TOTUM, deixa-se definitivamente o princípio fitoterápico e transforma-se o nível de ação do medicamento.
O princípio ativo isolado torna-se mais potente e seletivo, mas, em geral, acompanhado de efeitos colaterais não desejáveis.
A Fitoterapia, ou Terapia pelas Plantas, apresenta sistemas de cura diferentes, destacando-se: Medicina Chinesa, Ayurvédica ou Indiana, Fitoterapia Brasileira e a Fitoterapia Européia. O principal objetivo de todos esses sistemas de cura que utilizam os efeitos terapeuticos das plantas é estimular os processos metalólicos que ajudam a manter o estado de equilíbrio denominado "SAÚDE".
A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de 80% da população mundial usa fitoterápicos como tratamento básico de suas doenças. Nesse tratamento, utiliza-se desde plantas medicinais frescas recém-colhidas pelas populações rurais até medicamentos fitoterápicos elaborados pela avançada indústria farmaceutica. O predomínio dos medicamentos de síntese química, principalmente a partir do início do século XX, vem, de certa forma, cedendo espaço à Fitoterapia, terapeutica predominante nos primórdios da humanidade até a descoberta da síntese química de medicamentos.
Hoje em dia, a eficácia comprovada e os benefícios incontestáveis da Fitoterapia permitiram seu retorno à nossa vida cotidiana. O retorno ao uso de produtos de origem vegetal na terapeutica foi favorecido por:


- Confirmação de segurança e eficácia: vem crescendo o número de estudos envolvendo fitoterápicos publicados em periódicos médicos. Esses estudos estão sendo realizados com o uso de padrões científicos rigorosos.
Muitos pesquisadores estão testando fitoterápicos na prevenção e tratamento de inúmeros sintomas e doenças, dos mais simples aos mais graves e, até mesmo, comparando a eficácia e segurança com os medicamentos de síntese química.


- Consciência da necessidade de prevenção e de tratamento mais suaves: o envelhecimento da população proporcionado pelo aumento da expectativa de vida despertou nas pessoas o desejo de preservarem a sua qualidade de vida buscando tratamentos menos agressivos. A revelação de graves efeitos colaterais em muitos medicamentos de síntese tem estimulado a procura da Fitoterapia.


- Interesse da classe médica: os médicos estão demonstrando um interesse cada vez maior pelos medicamentos fitoterápicos. Eles veem na Fitoterapia uma opção de tratamento para muitas doenças que os medicamentos de síntese não conseguem debelar com a eficácia esperada ou os efeitos colaterais e contra-indicações são limitantes e, principalmente na prevenção e tratamento de doenças cronicas, quando o tratamento contínuo requer um medicamento que não prejudique outras funções do organismo. E não menos importante é a excelente receptividade dos pacientes ao tratamento fitoterápico.

- Evolução tecnológica: as apresentações dos fitoterápicos não se limitam mais ao chá, tinturas e as populares "garrafadas"; a tecnologia e o maior conhecimento químico e farmacológico das plantas e derivados propiciaram o desenvolvimento de novas formas de apresentação como cápsulas, comprimidos, drágeas, soluções líquidas orais, cremes, entre outras. Soma-se ainda o desenvolvimento de metodologias específicas de controle analítico que garantem a qualidade constante em cada lote de produção.




FORMAS FARMACEUTICAS
Cada planta contem inúmeras substancias químicas; descobrir qual delas ou qual grupo delas exerce a ação farmacológica desejada não é uma tarefa nada simples. Muitas vezes, quando esse grupo de substancias é descoberto e isolado, observa-se que sua ação terapeutica é inferior à planta inteira; é o caso das kavalactonas, consideradas as substancias ativas da Kava Kava, que quando completamente isoladas exercem menor efeito terapeutico em relação à planta inteira. Isso acontece porque essas substancias ativas necessitam de outras também presentes na planta para desenvolverem sua ação. Daí a importancia do TOTUM, anteriormente explicado.
Quando não se pode comprovar quais são exatamente as substancias ativas, pode-se não escolher o solvente adequado para a melhor extração das mesmas; nesses casos, convém utilizar-se a planta pulverizada, garantindo a presença de todos os componentes da planta.


Os extratos secos caracterizam-se pela presença de princípios ativos de forma concentrada. São preparações sólidas, pulverizadas ou granuladas obtidas por evaporação de solventes utilizados para a extração de princípios ativos de drogas medicamentosas, adicionados ou não de adjuvantes, apresentando teor de princípios ativos indicados na respectiva pesquisa científica.
Denomina-se extrato seco padronizado aquele extrato que contenha sempre uma quantidade determinada de principios ativos.
Os extratos oleosos são obtidos de produtos de natureza oleosa.


CÁPSULAS


Representam uma das formas farmaceuticas de maior aceitação. Por definição, é uma forma farmaceutica de dose individualizada, sendo constituida por um invólucro e por um complexo farmaceutico que contem os constituintes ativos e os adjuvantes. Apresenta algumas vantagens: constitui um meio de administração de substancias de sabor desagradavel sob uma forma em que não se percebe o gosto e as paredes das cápsulas são digeríveis e libertam, rapidamente, os medicamentos depois da ingestão. Classificam-se em cápsulas duras, quando o invólucro é apenas constituido por gelatina, e cápsulas moles, sempre que aquele é formado por gelatina adicionada de emolientes.
Os produtos encapsulados são apresentados na forma de planta pulverizada, extrato seco de planta ou extrato oleoso. Seus componentes são sempre controlados através de doseamento de marcadores e/ou princípios ativos que garantem a homogeneidade e todos os lotes.


COMPRIMIDOS
Os comprimidos são feitos pela compressão de material em pó ou granulado. Além dos ingredientes ativos, que podem somar apenas alguns miligramas, os comprimidos contem diluentes, ligantes, lubrificantes, corantes e agentes aromatizantes e desintegrantes para ajudar o comprimido a se dissolver em um meio aquoso.


COMPRIMIDOS REVESTIDOS


Os comprimidos também podem receber uma camada de revestimento cuja função é proteger a parte central medicinal. Os agentes de revestimento podem ser constituidos à base de uma mistura de açúcar, corantes, gordura e cera, ou por agentes formadores de filme, geralmente polímeros, especialmente desenvolvidos para a função.
Comprimidos revestidos apresentam as seguintes vantagens:
- A liberação do componente ativo pode ser controlada ou retardada.
- O prazo de validade é aumentado, uma vez que o revestimento protege contra influencias externas, como luz e umidade.
- Eles são mais fáceis de engolir do que os comprimidos não revestidos.
- O revestimento mascara qualquer sabor desagradável da parte interna da formulação.


CHÁS


São produtos constituídos de partes de vegetais, inteiras, rasuradas ou moídas, obtidos por processos tecnológicos adequado a cada espécie, utilizados na preparação de bebidas alimentícias ou medicamentos por infusão ou decocção em água potável.


- Decocto: na decocção, geralmente coloca-se a erva em água fria, e em seguida se aquece até a ebulição em recipiente fechado, deixando ferver por alguns minutos para depois filtrar. É indicada para partes da planta mais rijas como raiz, caule e fruto.


-Infusão: a infusão é preparada jogando-se água fervente sobre as partes ativas do vegetal, normalmente indicada para folhas ou flores. Deve-se deixar a planta dentro da água quente por 5 a 10 minutos e depois filtrar.
TINTURAS
São definidas como soluções extrativas alcoólicas ou hidroalcoólicas, preparadas a partir de matérias-primas vegetais ou ainda como extratos de plantas preparadas com etanol, misturas hidroalcoólicas em várias concentrações, de tal modo que uma parte da droga é extraida com mais de 2 partes, mas menos que 10 partes de líquido extrator, isto é, 10 ml de tintura devem corresponder aos componentes solúveis de 1 à de droga seca. As tinturas vegetais são preparadas à temperatura ambiente pela ação do álcool sobre uma erva seca (tintura simples) ou sobre uma mistura de ervas (tintura composta).
XAROPES
São soluções que apresentam alta concentração de sacarose, normalmente superiores a 40% (m/v). Podem ser obtidos por dissolução de extratos líquidos ou concentrados ou através de extração de drogas vegetais, por percolação ou maceração, a frio ou a quente, em que o meio extrator é constituido, normalmente por xarope simples. Devido a presença de sacarose, xaropes não são indicados para pacientes diabéticos, e em casos de diarréia. O uso continuado desses produtos em crianças, devido ao efeito cariogênico (formador de cáries) da sacarose, não é recomendado.
EMULSÕES
As emulsões constituem uma das formas mais usadas em dermatologia. Sua preferencia está relacionada a uma série de características por elas apresentadas, tais como a obtenção de produtos com a consistencia desejada e a facilidade com que se espalham pela pele. Emulsões contendo extratos vegetais são obtidas através de metodologias usuais de emulsificação, através da dissolução ou suspensão de extratos líquidos, concentrados ou secos na fase mais adequada.
GÉIS
São definidos como sistemas semi-sólidos constituidos por dispersões de pequenas partículas inorganicas ou de grandes moléculas organicas, encerradas e interpenetradas por um líquido.

FITOTERAPIA ATUAL
O uso de fitoterápicos é uma prática ancestral. Felizmente, a maioria dos países tem legislações que apoiam o uso deste importante recurso na saúde humana. Cada vez é maior o número de Universidades que realizam cursos de formação em Fitoterapia para os profissionais de saúde. Existem milhares de trabalhos científicos que confirmam a validade deste importante recurso, com impacto economico muito menor para os pacientes. Na Medline, principal base de dados médicos na Internet, aproximadamente 33% de suas publicações referem-se a pesquisas científicas realizadas com fitoterápicos. Além disso, o Brasil possui a principal flora do mundo, e não pode prescindir da utilização de medicamentos fitoterápicos, especialmente quando quase 100 milhões de brasileiros não tem acesso a uma cobertura básica de medicamentos na atenção primária a saúde. E, para finalizar, os fitoterápicos constituem uma excelente alternativa em casos de distúrbios ou doenças cronicas, onde, muitas vezes, os medicamentos sintéticos são responsáveis pelas principais iatrogenias médicas. Um recente informe canadense revela que "os produtos adequadamente prescritos representam a 4a. causa de morte na atualidade". Um dado para se refletir.
As plantas medicinais tem sido um importante recurso terapeutico desde os primórdios da Antiquidade até os nossos dias. No passado, representavam a principal arma terapeutica conhecida. Em todos os registros sobre médicos famosos da Antiguidade, tais como Hipócrates, Avicena, Paracelsius, as plantas medicinais ocupavam lugar de destaque em sua prática. A partir de plantas descobertas e usadas pelo conhecimento popular, foram descobertos diversos medicamentos usados até hoje pela medicina. O reino vegetal, além de ser o maior reservatório de moléculas organicas conhecidas, é um poderoso laboratório de síntese. Até hoje diversas moléculas com estrutura complexa dependem de síntese biológica, pois a síntese em laboratório não pode ser feita ou é economicamente inviável, como é o caso dos digitálicos, da pilocarpina ou dos esteróides. Por isso, plantas medicinais são usadas até hoje como matéria-prima para a fabricação de medicamentos. Durante muito tempo, os medicamentos fitoterápicos cairam em descrédito pela classe médica, pois suas preparações não eram padronizadas para que se conseguisse o efeito desejado no organismo. A partir da década de 1980, uma nova linha de pesquisa com medicamentos padronizados demonstrou ser possível a obtenção de efeitos controlados no homem, trazendo assim uma nova perspectiva de tratamento. Atualmente, tanto a comunidade européia quanto os Estados Unidos apresentam legislação para a manufatura e veiculação de fitoterápicos; grande número de pesquisas está em curso em vários centros de saúde. De modo geral, podemos observar um alto índice de efeitos terapeuticos com baixa incidencia de efeitos colaterais ao utilizarmos tais substancias. No Brasil, já dispomos de legislação a partir de janeiro de 2000, orientando sobre o uso e a comercialização de fitocompostos, fornecendo controle de qualidade para que a classe médica possa prescreve-los com segurança. Falta ainda mais informação, principalmente durante a formação academica. Tal dificuldade deverá ser facilmente superada nos próximos anos, a medida que os trabalhos de pesquisa demonstrem, sem sombra de dúvida, as vantagens do uso de plantas medicinais.













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